Caiu uma vírgula no chão
Responsabilidade
do vento
Eu
apenas cuidei
De
não perder o sentido
Da
frase
Cuidei
para que a forma
E o
conteúdo
Não
fossem feridos
Pela
ausência de algum sinal
A
janela agrediu a parede
Ao
lado dela
E a
cortina, nervosa,
Derrubou
o vaso de planta,
Que,
por sua vez,
Deitou-se
sobre o chão
De
forma estúpida
E
agressiva
Achei,
por fim
E
melhor,
Deixar
a vírgula
Soterrada
por este destino.
Pedi
o auxílio de um travessão
Posto
que a sentença
Era
apositiva.
Mas,
na hora de fechá-lo,
Meus
dedos, por displicência,
Feriram-se
em sua finura
E
pingaram uma interjeição.
Ainda
restavam
Alguns
símbolos gráficos
Para
que o sol
Não
perdesse seu “s”
Nem a
lua
Seu
doce martírio
De
dividir a noite
com
estrelas.
O que
doeu mais
Foi o
acento grave
Que
parecia ter sido extinto
Por
algum gramático moderno:
Tive
de colocar um espelho
Frente
a frente
Com a
bica de um acento agudo
Soprei
o fino chapéu:
Inverteu-se
a imagem
E de
“á” ficou “à”
E eu,
de poeta culto e erudito,
Voltei
a ser criança
Voltei
à escola
Não
sem antes emergir uma ilha
Com vários
travessões
Resgatar
a vírgula
Debaixo
dos escombros
De
uma gramática
Muito
mal reconhecida
Pelas
próprias línguas
Que a
criaram
(ou
deveriam...)
Fechar
a janela
Ajeitar
a cortina
E
sustentar firme,
Para
acabar este poema,
Num
ponto final
Era
tudo que
O
codinome
Das
quatro paredes
Me
pediam
Para
não esquecer
De
sonhar
Que um dia
só os dedos dos homens
poderiam acender
ou apagar
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