sábado, 31 de outubro de 2015

Em que me fragmento...



... quando meu sonho
é a própria pedra
do caminho?

Se há espelho
no chão
e meus olhos
deixam rastros?

Nestes momentos
sou eu um lúcido idiota
chão de estrelas
pão de pétalas

Um poeta muito embora
perdido
(do contrário,
não seria eu este avesso
do que chamam caos)

Sou aquele que esculpe
e se perde
nas curvas da descoberta
em colheita
de silêncio e oração.

Em que chuva ou vento
ou sol ou pranto
me tornei vão?

Por que não são todos
o cinzel tolo
de carne e osso mudo?

Poema órfão de pedra
que a si mesmo destruiu
faço-me meu
como a sombra
confirma a iluminação?

A partir desse instante
do tornar-se humano
não por instinto
mas por uma necessária reflexão,
o que me paralisa em pedra?

A partir do espelho
em que meu olhar se condena
por não ter a alma de pano
e nem recusar-se à rima
que em mim se deita
e de mim se serve...
sendo eu mesmo
o estrado, o colchão,
e a cama,
por que meu pensamento
não se acalma?

sexta-feira, 30 de outubro de 2015


Sem mim...





... não haveria o que em mim
tenho de mais verdadeiro.

O amor não reconhece
o paraíso
dos que pensam
sem a razão do sol
existir


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Não há sol...

Reflexão existencial
sobre minha experiência sexagenária.
ano 1 editora - R$ 20,00 (correio incluso)

... sem sombra de dúvida
Sem qualquer dessemelhança
Uma fé ágil e infinita
Que desmistifica crenças

(Crianças dançam
ao redor da Terra)

Devo haver em mim
Como algo que há no mundo
Estar a caminho de tudo
Estar no fim
Em vias de recomeço

(Orbita num átimo
a fera ainda obstruída)

Devo habitar-me
Em paz comigo
E em sintonia ávida
Da vida
Em água fervendo
E labaredas
Líquidas

(Com seu próprio rumor
e sem o pudor
das marés sem mar)

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O que espero eu de mim... - II

Foto: João Gabriel Borges (Alto Paraíso-GO)


... é a sombra sob o sol
de amanhã?
O que eu penso que sou
Para viver bem
No lugar em que
Estou?


Espero
(e eles esperam também)
que eu seja o fim dos muros?
A arrebentação
dos mundos?

A rocha clemente
diante do infinito
do mar?

Espero
que eu desespere
em minha fé
artesã?

Ou fazer de mim
esperança,
um vasto Universo
entre minha companheira
mulher
e meu incontido poema
a ferver?

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Se não me parecesse...

Foto: João Gabriel Borges (Alto Paraíso - GO)


... tudo uma respiração
nada haveria de mal em mim

Nem aquele que há de mal
em meu próprio bem

Prefiro ser livre

Liberdade é um lago
perigosamente calmo
no alto de uma montanha
ou ao nível do mar

É voltar-se para si
antes do ataque
do maior inimigo
em ti

É um perigoso amante
quando apenas olhamos
o próprio umbigo

Aquece
o próprio âmago
tanto quanto
apaga o ego
de quem mais
tem apreço

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O que esperam eles de mim...

Foto: João Gabriel Borges (Alto Paraíso-GO)


(Uma pergunta
que poderia ser feita
por um poeta
(ou um sambista do subúrbio),
um místico
(ou um pai de santo sem murmúrio),
um cientista
(ou um gari mais profundo)

uma mulher da Vila Mimosa
amando um por um
(ou Olga e Prestes
amando a todos
do mundo)

Uma pergunta
sem ponto
sem interrogação

domingo, 25 de outubro de 2015

Agora

Foto: João Gabriel Borges (Alto Paraíso - GO)


Aquilo que mais esperam de mim...
Eu mesmo soterrado
Pelos escombros
Do que ninguém vê
Apenas eu sob espectros
Que talvez não estejam
Tão mal assim
Dentro de mim

Agora
As escamas tecem o mar
Porque sem espantos
Não haveria o mar
Como sem rostos
Não haveria a terra


sábado, 24 de outubro de 2015

Flores não são humanas

24/OUT/2015

muito menos sabem
ou imaginam saber
que são flores
E entre nós
e elas
não há a dúvida
de distâncias
de duas vidas
entre um e outro

Apenas o fato
(aparentemente concreto)
de que elas são flores
de que nós somos humanos
nós a chamamos de flores
e elas,
nos chamam de quê?


Nós temos sangue
e elas seiva...


O que há de diferente entre
o branco e o vermelho
senão o preto, o preto, o preto,
apenas o preto do que ignoramos.


Somos nada
ou coisa nenhuma
ou pessoa alguma
se não formos pretos.


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Escreve teus versos...

23/OUT/2015


... com o punho daqueles
(com teu espanto
e tua necessidade),
que riscam no ar
o que ainda há de canto
e o que é onda
ao se cantar;


não com as mãos de tua individualidade,

tão mortal quanto tudo
que há de passar.

Então,
risca no ar
o que for necessário
e deixa as respostas
para os que vão passar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Eu,

22/10/2015

Cantando sozinho
Esqueço que os sonhos

Não me esquecem
Quando canto sozinho

Não lembro de nada
(A não ser de esquecer tudo)

Esqueço quem canta
E abro os ouvidos
Apenas para mim.


E aqueles que, em mim,
É o que mais me encanta...

São eles
Os que mais me mostram
O que havia
E o que voltará a haver,
Seja para o mal
ou para o sim.