Fordismo poético
A repetição, enquanto fenômeno social de alienação das
pessoas para além de si mesmas, as mantém sempre como abrigo de si mesmas.
Afirmação contraditória, né?! Mas é o acontece...
O ser humano comum (99,9%)
precisa repetir-se, encontrar as mesmas pessoas, encontrar-se nos mesmos
lugares, criar tribos, locus
indevassáveis em nome de uma criatividade inócua e viciada.
A poesia é criativa, então não engana as pessoas: ela é
perigosa e, para a maioria, basta que ela se mantenha em folhas de papel. Mas a poesia (enquanto movimento cigano e ininterrupto) não precisa disso,
basta abster-se do medo de morrer. Porque criar é morrer, e morrer (para os
poetas) é criar. Mas morrer, infelizmente, significa para muitos "perder coisas"... "perder-se"...
Manter-se atrelado a ideias preconcebidas, tais como ideias políticas,
estéticas, individualizadas (tipo: “eu já sei tudo, os outros é que têm que aprender”),
não permite que o ser humano saia de frente do computador, saia de sua sala,
saia de sua rua e fique apenas “jogando pedras” em vidraças inimagináveis...
“jogando cartas” na praça (tipo: tenho todos os trunfos, não preciso de
“poemas” e sim de meu ego poético...).
Voltando ao início, a poesia é o cativeiro dos que sonham em
liberdade, mas vivem livres apenas porque sonham, porque escrevem, reescrevem,
sobrescrevem, etc. Têm a malícia dos que mentem deliciosamente, impunemente,
com carinha de bundinha de neném, enquanto as metralhadoras (imagens transformadoras) enferrujam em suas
memórias.
Basta-lhes a repetição. Basta a ideia de que existem
escolas, faculdades, estilos, tribos, círculos sociais míopes, metrificações, etc, para que todo o caos
mantenha-se em ordem.
Mas já dizia Hélio Oiticica: “Seja um herói! Seja um
marginal!” E isto, ao meu ver, não quiser dizer nada, porque se dissesse alguma
coisa seria o presente se dissolvendo no passado e não absorvendo o escuro atraente
do medo e do estranhamento do futuro.
Mas heróis e marginais povoam cemitérios, cárceres, desertos... que é de ondem vem as lótus, lírios, liberdades, verdadeiras revoluções!!!