segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Mente criativa... - II

Ivan Konstantinovich Aivazovsky












... exige de si mesma
ser uma nova semente
a cada dia
enquanto, à noite,
subscreve a colheita

Não exige
por que tem de exigir
Renova-se
porque tem de renovar-se

A criação é o alimento
da vida em permanente
expansão

Precisa-se
de muita leitura
Meditação
Empreendimento interior

Mutações
ocorrem vermelhas
Depois em outras cores
até o branco
de outra esfera

Orações
circulam pela mente
de forma criativa

Cada dia
é um novo verso
dessa viva polissemia
que atravesso
enquanto posso


joaodeabreu9@gmail.com

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Deidades...











... aproximaram-se mais
dos meus 65 anos

Minha individualidade
foi minha juventude
Minha cidadania
é a idade de hoje
Minha infinitude
é o tempo à espreita

Quantos anos fazemos
quando nosso aniversário
é esquecido pelo tempo?

Qual a nossa idade
quando apenas um fio
nos atém ao mundo?

Aponta-nos o tempo
apenas as células
que se penduram
no corpo
e de lá sopram velas
comemorando
a paz de todo o mundo
penduradas
na alma
joaodeabreu9@gmail.com

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Mente criativa - I











Plantei hoje
um pé de vento
que deu sua volta ao mundo
E retornou suado
de novas eras

Muitas festas
Muitas lutas
Muitos manifestos
Remansos, cachoeiras
Tudo compõe
a mente criativa

Nada se impõe
por si mesmo
Cada caminho tem
suas próprias raízes
E é preciso conhecê-las
pelo aquecimento
dos passos
que atravessam sinapses
Arregimentam hipóteses
Soletram cada célula
Revitalizam-se
Por serem as plantas
que dormem na terra
Para acordar
do que flutua
em mentes criativas
joaodeabreu9@gmail.com

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Verossimilhança do tempo











O passado
virá do presente
O que você
estiver vivendo
é o que você reviverá
no que passou

O futuro
está a caminho
a partir da paisagem
de hoje
O que você
deixar de viver
é o que você irá sentir
no que ainda
não deixou de passar

O passado
está a caminho
a partir da passagem
de hoje

O futuro, também
está a caminho
a partir da viagem
de ontem


E o presente...
de onde estará vindo?
Onde estará se procurando?
Para quem se dividindo?


joaodeabreu9@gmail.com

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Silêncio obtuso – IV
















Sim,
Não calo
Como quem consente

A voz semidiurna
De um galo
É a semente
Tanto da chuva
Quanto do sol
Ambos dementes
Quando não são iguais
Mas chegam até nós
Como a verdadeira voz
Do que vai morrer
Adiante
Mas já morreu
Por instinto

E o instinto
Ninguém vai traduzir
Como constante

Ele é o que sinto
O que somos
De mais ou de menos
Para viver
O que chamamos
de eterno
Ou que sofremos
de terreno


joaodeabreu9@gmail.com

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Fordismo poético



A repetição, enquanto fenômeno social de alienação das pessoas para além de si mesmas, as mantém sempre como abrigo de si mesmas.

Afirmação contraditória, né?! Mas é o acontece...

O ser humano comum (99,9%) precisa repetir-se, encontrar as mesmas pessoas, encontrar-se nos mesmos lugares, criar tribos, locus indevassáveis em nome de uma criatividade inócua e viciada.

A poesia é criativa, então não engana as pessoas: ela é perigosa e, para a maioria, basta que ela se mantenha em folhas de papel. Mas a poesia (enquanto movimento cigano e ininterrupto) não precisa disso, basta abster-se do medo de morrer. Porque criar é morrer, e morrer (para os poetas) é criar. Mas morrer, infelizmente, significa para muitos "perder coisas"... "perder-se"...

Manter-se atrelado a ideias preconcebidas, tais como ideias políticas, estéticas, individualizadas (tipo: “eu já sei tudo, os outros é que têm que aprender”), não permite que o ser humano saia de frente do computador, saia de sua sala, saia de sua rua e fique apenas “jogando pedras” em vidraças inimagináveis... “jogando cartas” na praça (tipo: tenho todos os trunfos, não preciso de “poemas” e sim de meu ego poético...).

Voltando ao início, a poesia é o cativeiro dos que sonham em liberdade, mas vivem livres apenas porque sonham, porque escrevem, reescrevem, sobrescrevem, etc. Têm a malícia dos que mentem deliciosamente, impunemente, com carinha de bundinha de neném, enquanto as metralhadoras (imagens transformadoras) enferrujam em suas memórias.

Basta-lhes a repetição. Basta a ideia de que existem escolas, faculdades, estilos, tribos, círculos sociais míopes, metrificações, etc, para que todo o caos mantenha-se em ordem.

Mas já dizia Hélio Oiticica: “Seja um herói! Seja um marginal!” E isto, ao meu ver, não quiser dizer nada, porque se dissesse alguma coisa seria o presente se dissolvendo no passado e não absorvendo o escuro atraente do medo e do estranhamento do futuro.

Mas heróis e marginais povoam cemitérios, cárceres, desertos... que é de ondem vem as lótus, lírios, liberdades, verdadeiras revoluções!!!


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Silêncio obtuso – III

joaodeabreu9@gmail.com










Calado
Entre o som
Daquele que se abstém
De sua própria sombra
E o silêncio
De quem
Sabe-se sonoro
Porque ouve tudo
Que se tem

Sinto-me melhor
Em minha voz
Sobrevoando
Cada princípio
De outra melodia
Precipício
Espelho
Elo
Entre mim
E eu mesmo

Entre o silêncio
por trás da canção
e a própria canção
que há no silêncio

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Neuropoema












Deita-te
Deleita-te
Em hoje há uma chance
Não por acaso

Sonha com teu corpo
Sobre o mar
Tuas águas reconhecem
O grito líquido
e vivo
de algo sem tréguas

Queima-te
na fúria das mudanças
tal como sorri
teu sol
por trás de nuvens
escuras

Espuma-te
Vaporiza-te
Hoje é dia de ser
mais 24 horas do ciclo
de ir e vir
entre Vênus e Marte
na troca de pele
da serpente
do Ser

Fluoriza-te
Arranca-te
Raízes te chamam
Para a gravidez da terra
o aipim, o aipo, o caipora

E a gravitação
Das pétalas alfa
Lágrimas beta
te mostrará
como pronunciar
teu alfabeto

As palavras exigem
Tua língua nua
em ondas de sílabas
como amor, mar,
múltiplo
maior

Ama-te
sobretudo porque
existe em ti
o que nunca deixará
de existir

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Silêncio obtuso – II

Ivan Konstantinovich Aivazovsky













Calado
Arranha-se entre aranhas
E outros medos
A minha voz
Sem segredo algum

Há um som redimensionado
Pelo próprio silêncio
Do ser sonhado

Há um som
Um sim
Mesmo que um não
Coloque a roupa
Dos mais palhaços
Despudorados

Um sim
Sem compromisso
Com os relógios diários
Os elogios
Que nenhum rio
Aceita
Antes de se tornar
O mar
De sua própria

Emissão de raios

sábado, 20 de fevereiro de 2016

Silêncio obtuso - I













Sim,
Continuo calado
Em frente a este poema
Como se fosse
O doce amargo de...

... Padre Ernesto Cardenal
(descrevendo Sandino
quando olhava o mundo
do alto das montanhas
da Nicarágua)

... Pablo Neruda
(quando o mar impiedoso
não lhe deixava
nenhuma alternativa
a não ser decifrá-lo)

... Garcia Lorca
(entre as espadas
duras de seus amantes
e o tiro mortal
nas estantes imbecis
onde havia livros
e livres não eram
os que liam)

Sim,
Eu continuo calado
E calar-se
Não é ausência
De calor
É comungar-se
Com o frio que acolhe

Qualquer dor

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Órbitas – III
















Chova
Ou faça sol
Nos olhos e janelas
Fechados
Escorre um leve assobio
Anunciando a semente
De um abraço

Pode deixar a chuva
Sozinha
A lágrima no rosto
Estranha

E dois corpos
Ocupando o mesmo
Espaço

Falando pela pele
Como uma canção
Cujas escamas
Deliciam-se nuas

Ao roçar a água
Que sua

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Órbitas – II












Se os olhos são
As janelas da alma
As janelas de uma casa
São os olhos do mundo
E cada estrela,
A íris do Universo

Quem fecha as janelas
E os olhos
No fundo encerra
Suas frestas
E íris

Respira só duas vezes

Os pulmões
Dos que inspiram astros
Exalam sempre
Novas constelações

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Órbitas - I

http://www.ultimosrefugios.org.br/#!lagrimas-do-rio-doce/c16xv











Fecham-se janelas
Quando chove;
Nem sempre quando choram
Fecham-se os olhos

As janelas nada abrigam
Desalinham movimentos
Calam os ventos
Silenciam outras agonias?

Os olhos escondem-se
Por trás do silêncio
De suas pálpebras

Acende-se a luz
De dentro
Ilumina-se a vida
No centro

As janelas morrem
Reféns dos segredos
De madeiras e alumínios
Que escorrem
Pelo veneno geométrico
Das indústrias
e a ambição aritmética
dos industriais

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A u d i ç ã o
















Pelo teu jeito de ouvir
Pelo teu jeito de falar
Parece que ainda há de vir
O que os ouvidos
E a língua
Haverão de unir

Pelo teu jeito de ser
Pelo teu jeito de se chegar
Parece que as coisas
Mesmo no fundo dos rios
Ou no fundo dos mares
Haverão de continuar

Em tradução livre
Teu corpo significa
Mais que um corpo
É a malícia
O bem-estar consigo mesmo

É a volta ao mundo
Em 80 segundos
Um terremoto
Que ninguém jamais
Irá ouvir ou ver ou sentir

Entre o teu jeito de
Levantar a barra da saia
Enquanto cai a cintura
Há um umbigo
Pedindo à língua
Uma palavra
Uma palavra apenas
Com todo o segredo
Que uma palavra
pode guardar
E que se dissimula
com a ponta dos dedos
do pênis
ou quem sabe
a fuga pela janela
(a não ser
que esses dedos
não forem de ninguém)

Guardada para depois
De tudo
E que será pronunciada
Como o teu jeito quiser

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Não é a saudade uma coisa ruim













Uma vida tão bonita
passando pela gente
como se faltasse algo no coração
quando é justamente no coração
que mora a sua razão de existir

Não é a saudade exatamente maldita
já que ela pode se manifestar
como uma forma de amor
ao avesso do que se tem em mãos

Não é a saudade...

é a ausência do que não é
A falta do que deveria
A distância do que ainda não veio

A saudade não desfaz,
Sustenta o que se distancia

A saudade presencia
quem se ama

A ausência nada tem
Nada apresenta

A saudade põe ao nosso lado
o ser amado
mesmo que há muito
esteja perdido
ou apenas desejado

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Nuvens negras...











... sábado à noite
Não é nada
Para ninguém
Mas é muito
Para alguém
Que busca nelas
A mesma imagem
Que encontra
Em si

Nuvens
São nuvens
Pessoas
São pessoas

Ambos gritam
Sofrem
Semeiam
Se arrastam
Flutuam

Anúncio de chuva
Lá no alto
Anúncio de lágrimas
Cá dentro

Ambos
Sugerem novos rios
Abraçam novos rumos
E nossos corações
Deverão estar atentos
A cada momento

A intenção que vale
Quando o ato
Não justifica a si mesmo

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Uns e outros
















O pragmático
Procura o mar distante
Onde mergulha sua vida
E sorri para um peixe
Que lhe retribui o sorriso
com os dentes
do arpão

O sonhador
Atravessa a utopia
Das florestas intensas
Imagina-se
Um dos inocentes
Que se abrigam
Em seu verde
De ver
De verdade

Sente o perfume
De cada passo
O espaço da flora
Entre o canto
De um e outro pássaro

E, justo neste espaço,
Um córrego sorri
Anunciando
A peregrinação de um rio
Para onde quer ir
E rir

Arregaça as calças
Descalço,
Pousa seus pés
Sobre as águas mães

As pedras
Que moram no fundo
Trocam olhares
Abençoam
Os passos futuros
Que ele dará

Seus pensamentos
Esvaziam-se
E só a respiração
Navega
Em suas pálpebras
Fechadas

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O que estiveres fazendo...












... faça
unicamente
faça

mesmo com tudo
e todos
ao redor [co]laborando
de forma direta ou
indireta

unicamente
concentre sua força
e faça

força física
ou mental
da terra
ou espiritual

Concentre-se em ti

O que está sendo feito
é obra do futuro
exige aceitação

Materializa-se
na (pro)porção mágica
da imagem antes
em si
construída
e depois
por si
construir-se

Fazer
É estar passo a passo
Consigo mesmo

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Canto alzheimeriano
(Balada alada em nome de quem vê pela sua própria visão)












Não esqueci os óculos
Sobre a mesa
Deixei sobre o fogão

Não esqueci de levar o cão
Para fazer o que faz
Sempre toda manhã

Não esqueci de você
Apenas meus olhos
Me lembram
O que já não vejo

Não esqueci de mijar
Nem de suar
Nem de beber água
Apenas minha vida é
O que a vida é

E a vida é
A sensação que eu tenho
De que tudo está vivo
Nada perdido
Apenas segue seu sentido
Tanto quanto
Durante a vida
Sempre pensamos
Que nunca iria morrer